Acho que todo mundo já ouviu isso: depois que fulana teve filho ficou tão desleixada!
Eu ouvi. Várias vezes. Recentemente. Comigo!
- Agora você tá melhor, porque quando seu filho nasceu tava desleixaaaada.
Me segurei pra não dá uma resposta cheia de raiva. Fiquei calada mas parei pra pensar nisso. Quando nos tornamos mães realmente ficamos desleixadas? Largadas?
Tá, vamos lá.
Sabemos que não é nada fácil esse processo de nascer uma mãe.
Na verdade as etapas desse processo começam antes mesmo de engravidarmos. Algumas simplesmente deixam de tomar a pílula, outras precisam de tratamento. A ansiedade da espera é difícil.
Mas conseguimos e durante a gravidez que é um período lindo, um estado de graça, passamos por muitas mudanças. Choramos, rimos, temos dores lombares, enjoos, pés inchados, desejos, intolerância, ansiedade quanto ao parto, tudo junto.
Aguentamos a falta de respeito das pessoas em relação às grávidas (eu não sei porque algumas pessoas tem raiva das grávidas), indiretas no trabalho etc.
E assim chegamos ao grande dia: o bebê nasce. E aí vem o medo de ser não ser uma boa mãe, a recuperação, os pontos inflamados, o cansaço, a solidão, os seios rachados, a depressão.
Muita coisa envolve o nascimento de uma mãe.
Nós não temos tempo pra nós mesmas. Fazemos tudo rápido enquanto eles dormem ou enquanto alguém fica com eles pra gente. O banho, escovar os dentes, pentear os cabelos, dormir, fazer cocô, tudo pela metade.
O bebê mama a cada duas, três horas. Alguns ficam no peito 10 minutos, outros uma hora. Permanecemos de camisola o dia todo. Se temos alguém nos ajudando ótimo, mas se não... Quantas vezes colocamos o bebê pra dormir, já tarde da noite, e fomos correndo tomar um banho, felizes por isso, e de repente o bebê começa aquele choro. Dá vontade de chorar também. Saímos enroladas na toalha, cheias de sabão pra ver o que aconteceu.
Não é fácil.
E quando seu filho tem cólicas? Ah, isso é terrível! E não existe receita. Você fica remoendo as informações recebidas, pensando nas dicas, conselhos, palpites, e às vezes nada dá certo.
Minha recuperação foi dolorida, meus pontos inflamaram, mas meu peito não rachou, tinha leite que era uma beleza, meu filho não teve cólicas (puxa, fui feliz hein?), brotoeja, nada disso. Mas acordava a noite inteira, só queria colo.
Teve um dia que meu marido chegou do trabalho onze horas da noite e, eu tava chorando porque tava com fome e não tinha tomado banho ainda.
Parece que a gente vai enlouquecer!
Demoramos a entender que não somos mais uma pessoa só. A ficha vai caindo aos poucos. Parece que nos perdemos um pouco. Perdemos a nossa identidade sabe?
Certo dia me dei conta que as calcinhas usadas durante a gravidez ainda estavam lá na gaveta. Pra que? Claro que não dava mais pra usar aquilo né? Me desfiz delas na mesma hora.
Mas isso é o primeiro momento. Os primeiros meses, parecem assustadores.
Descrevendo sobre tudo isso vejo que cuidamos do bebê, da casa, do marido e ainda temos que escutar que estamos desleixadas?
Não dá pra aguentar. É de doer. Mais compreensão aí né?
Aos poucos as coisas vão voltando ao normal. Não que ter um filho não seja normal. Só não é fácil. Transforma a nossa vida, nossa casa, nossa mente, nosso corpo, muda tudo. Muda a nossa maneira de ver o mundo, de amar.
Mas sinceramente, esse tipo de comentário entristece, chateia. Fico com raiva.
Então quando eu ouvir isso de novo, não vou me calar. Desaforo.
Porque na verdade essa é só uma fase, passa logo. E estamos mais lindas depois que tivemos nossos filhos porque somos mais felizes. E é a alegria do interior que traz formosura ao rosto.